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LUIS CARLOS DE MOURA AZEVEDO
( Brasil – São Paulo )

Nasceu em São Paulo, em 1947. É poeta, jornalista e antiquário.
Premiado em dezenas de concursos nacionais de poesia, participa de numerosas antologias.  

PAIXÃO POR SÃO PAULO.  Antologia poética paulistana.  Org. Luiz Roberto Guedes.     São Paulo:  Editora Terceiro Nome, 2004.  184 p.       Ex. no. 10 476               Ex. bib. Antonio Miranda  

 

       o passeio do duque a cavalo

no trajeto das nuvens e do céu encoberto
entre a estátua do duque que aponta sua espada
e a lança em descanso do índio abaixado
as avenidas e as planícies desoladas
são águas passadas são praças desertas
esse duque de bronze que passeia sua espada
pelos prédios mais velhos coroados por pombos
com cariátides pousadas no beiral das janelas

entre o duque a cavalo e o índio agachado
as fachadas cinzentas os heróis zeladores
areando as letras das placas perpétuas
estes prédios mais velhos como se fossem palácios
transatlânticos perdidos com três chaminés
as caldeiras ardendo todo o óleo já gasto
estes prédios mais velhos como se fossem pacotes
estes prédios antigos de canos à mostra
disfarçando as vísceras com recheio de estuque
estes prédios mais velhos de cornijas decrépitas
caiu a marquise e ninguém percebeu

entre o duque empinado e o índio de cócoras
as florestas os regatos um dia tão plácidos
clareiras serenas de pacatos tatus
frondosos coqueiros e guarda-sóis coloridos
o índio curvado à espera da caça
a lança em descaso agora se arrisca
a arapuca dispara como se fosse tão fácil
a hora dos cachorros saírem do armário

as luzes da noite com gosto de fórmica
as sombras tranquilas sorrindo de esguelha
para as barracas de pastel e garapa de cana
o gosto da noite com lábios de fórmica
as cariátides se esquivam para a passagem
[do duque
é quase um bailado de movimentos em falso

entre a espada do duque e a lança do índio
um bosque de jabuticabas era o pomar do
[arcebispo
os bondes passavam sacudindo os cristais
um lustre a menos para limpar no natal
entre o quepe do duque e a tanga do índio
um corredor de alamedas com grades de ferro
avalanches de névoa nos telhados de ardósia
as águas-furtadas as goteiras de chumbo
as tranças de aço no umbral dos portões

no trajeto da lua e do céu aturdido
a espada do duque inventa um monumento
o índio em riste as penas mais tristes
o duque se anima e pede um pastel
as cariátides agradecem e recusam o convite
pastel de palmito das palmeiras da praça
o índio escapou fingindo estar morto
as cariátides se afobam e escorregam com tudo
o índio que foge fingiu estar vivo
sentado em silêncio ao redor dos escombros

 

                     (De O passeio do duque a cavalo, João Scortecci, 2002)



*

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Página publicada em novembro de 2022

 

 

 
 
 
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